O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mencionou a possibilidade de mudar a meta de inflação, com o objetivo de segurar a taxa de juros no Brasil.
Lula fez a declaração em um café da manhã com jornalistas nesta quinta-feira (6). Ao fim da conversa, porém, ele disse que apenas discutia uma fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e que não pretende brigar com o chefe da instituição.
Lula se referia a uma hipótese levantada pelo presidente do BC. Na semana passada, Campos Neto afirmou que, para cumprir a meta de inflação atual, os juros deveriam estar em 26,5% ao ano bem acima dos atuais 13,75%. Campos Neto ponderou que aquilo seria impossível.
O petista criticou a hipótese e a política de juros do BC. Em seguida, afirmou: "Se a meta [de inflação] está errada, muda-se a meta".
"Esses dias, eu li uma frase que eu não sei se foi dita pelo presidente do Banco Central que, para atingir a meta de 3%, precisaria de juro de 20% [Campos Neto falou em 26,5%]. Não sei se foi verdade isso, mas no mínimo é uma coisa não razoável. Porque se a meta [de inflação] está errada, muda-se a meta", disse.
O centro da meta oficial para a inflação em 2023 é de 3,25% e, para 2024, de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Ao fim do café, Lula disse que se referia a uma hipótese e que não quer discutir a meta.
"Eu disse que não ia discutir meta, porque esse é um problema da autonomia do Banco Central e do Senado, que aprovou a autonomia do Banco Central. Ele [Campos Neto] que tenha a sua autonomia, e o povo brasileiro que fique analisando", disse.
A meta de inflação, no entanto, não é determinada apenas pelo presidente do Banco Central. Quem define o percentual é o CMN (Conselho Monetário Nacional), composto pelo presidente do BC e por dois ministros: Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento). O governo, se quisesse, teria maioria para fazer uma mudança.
Lula já havia mencionado essa possibilidade em janeiro, numa entrevista à GloboNews. Pouco depois, no entanto, Haddad afirmou que a meta permaneceria como está. O CMN referendou a decisão.
No café com os jornalistas, o presidente lembrou ter estabelecido e cumprido metas em seus governos passados, mantendo uma boa relação com o Banco Central.
"Eu já fui presidente da República. Já discuti com o Banco Central. Já estabeleci meta neste país. Já cumprimos a meta. Se você estabelecer uma meta para a sua vida e não cumprir, então você está mentindo para si mesmo", declarou.
Lula afirmou que não pretende "ficar brigando" com o presidente do BC. "Quem indicou ele foi o Senado. Daqui a dois anos, vai-se discutir um novo presidente do Banco Central."
Após as falas de Lula sobre alterações na meta de inflação, dólar e juros futuros subiram nesta quinta-feira (6).
Após terminar o pregão passado em queda de 0,66%, a moeda americana reverteu a tendência para fechar o dia em leve alta de 0,15%, a R$ 5,059 na venda, ficando praticamente estável no acumulado da semana.
No mercado de juros futuros, o contrato para janeiro de 2024 avançou de 13,22% para 13,26%, o título para janeiro de 2026 subiu de 11,81% para 11,90%, enquanto o contrato para 2027 passou de 11,90% para 12,00%.
NOVOS INDICADOS AO BC DEVEM AGIR SEGUNDO INTERESSES DO GOVERNO, DIZ LULA
Durante o encontro, Lula também disse que os novos nomes que serão indicados para diretorias do BC devem agir "de acordo com os interesses do governo".
O presidente afirmou que serão "pessoas da mais alta responsabilidade, porque nós não vamos brigar com a economia".
"Na economia, não existe mágica. Não é possível imaginar que, num país como o Brasil, se possa dar um cavalo de pau naquilo que vem acontecendo", disse.
Os mandatos de dois integrantes da cúpula do banco se encerraram no fim de fevereiro: Paulo Souza (Fiscalização) e Bruno Serra Fernandes (Política Monetária). O governo tem o poder de escolher os substitutos, que precisam ser aprovados pelo Senado.
"Vamos escolher as pessoas corretas para o lugar certo, trazendo boas pessoas neste ano. Ano que vem, também, duas pessoas", disse Lula.
Ao criticar novamente a política de juros do BC, Lula declarou: "Vamos ter que encontrar um jeito [para] que o Banco Central comece a reduzir a taxa de juros. Não é compreensível, porque não temos inflação de demanda".
Lula afirmou estar satisfeito com a proposta do novo arcabouço fiscal e que espera sua aprovação pelo Congresso. "Foi uma engenharia muito bem pensada pela equipe do companheiro Fernando Haddad. Estou convencido de que, como foi articulada e conversada por todos setores políticos, nós vamos conseguir aprovar."
O presidente anunciou também que, nas próximas semanas, pretende discutir a criação de uma nova política de estímulo ao crédito.
"Não é possível um país continuar assim. Nós vamos ter que discutir com muita clareza [...] a criação de uma política de crédito para o pequeno e médio empreendedor, cooperativas, agronegócio, para os pequenos e médios empresários, para a agricultura familiar."
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