O chanceler do Uruguai, Francisco Bustillo, indicou nesta segunda (3) que o país cogita deixar o Mercosul como Estado-membro caso o bloco não "se flexibilize". Montevidéu insiste há dois anos no desejo de firmar um acordo bilateral com a China -o que Brasil e Argentina veem como uma violação às normas do grupo.
"[A participação no bloco] é algo que, sem nenhuma dúvida, em algum momento, o Uruguai terá que considerar", disse Bustillo à imprensa uruguaia após uma reunião de ministros. "Seja para modificar o próprio tratado fundador, ou eventualmente cogitar a possibilidade de sair do Mercosul como Estado fundador e tornar-se associado."
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Ele ponderou, no entanto, que a decisão teria de passar por várias instâncias. "Mas todas essas considerações, que estão sobre a mesa como uma possibilidade, são questões que me transcendem, e que serão consideradas por todas as forças políticas que compõem o Uruguai", acrescentou após o encontro em Puerto Iguazú.
O Mercosul atualmente é formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, e tem como países associados os outros sete sul-americanos, com exceção da Venezuela, suspensa em 2016 por violar as cláusulas do bloco. Já a Bolívia está desde 2012 em um processo de adesão que depende da aprovação do Congresso brasileiro -o chanceler Mauro Vieira afirmou que quer avançar nos trâmites nos próximos meses.
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Questionado sobre a existência ou não de estudos jurídicos sobre a eventual saída do bloco, o ministro Butillo afirmou: "Existem estudos. Os caminhos podem ser percorridos. O mais importante seria que existisse a vontade política, assim como existia na época de ingressar no Mercosul e fundá-lo".
Procuradas, as chancelarias do Brasil, da Argentina e do Paraguai não comentaram as declarações de Bustillo. Segundo membros do governo brasileiro que participaram das reuniões, uma eventual saída do Uruguai não chegou a ser citada na cúpula de ministros. O país, dizem, participou ativamente dos debates.
O uruguaio usou seu discurso para pressionar por flexibilização. "China aguarda, Uruguai também aguarda. Como temos falado reiteradamente, para o Uruguai é sempre melhor estar acompanhado, em qualquer mesa de negociação, da Argentina, Brasil e Paraguai. [...] A única coisa que não vamos permitir é o imobilismo."
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Também fez oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que vem criticando novas exigências ambientais da União Europeia para ratificar um acordo de livre-comércio entre os blocos -cujas negociações já duram mais de 20 anos. O Itamaraty afirmou que deve apresentar uma aguardada resposta às exigências "em alguns dias".
"Sobre a União Europeia, basta dizer que lamentamos não ter conseguido corresponder às nossas propostas, expectativas e circunstâncias. No início deste semestre concordamos que a prioridade seria a UE", disse Bustillo.
"Ao final desta Presidência [semestral] da Argentina, confirmamos que não avançamos nas negociações. Tínhamos acertado um cronograma de reuniões para todo o semestre entre as delegações do Mercosul e da UE, e nenhuma delas pôde ser realizada", continuou.
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Em janeiro, o presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, já havia criticado o que chama de protecionismo do Mercosul na Cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos). Ele pediu que líderes da região parassem de "reclamar para dentro" e compreendessem que é preciso avançar na integração global.
O discurso destoou do de seus correspondentes do Brasil e da Argentina, que falavam em uníssono na necessidade de combater o avanço da ultradireita. Na ocasião, Mauro Vieira afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo que a efetivação das negociações significaria a destruição do bloco.
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