
Em tempos de incerteza, muitos buscam na fé respostas para os dilemas da vida moderna. Foi assim que, em meio à vastidão gelada da Sibéria, surgiu um homem que dizia ser a reencarnação de Jesus Cristo. Por décadas, Sergei Torop — mais conhecido como Vissarion — reuniu centenas de seguidores que acreditavam ter encontrado, naquele ex-guarda de trânsito russo, um guia espiritual para tempos turbulentos.
Essa jornada, no entanto, tomou outro rumo esta semana. Torop foi condenado pela Justiça russa a 12 anos em um campo de prisioneiros, após ser considerado culpado por causar violência psicológica, danos à saúde e prejuízos financeiros aos seus fiéis.
CONTEÚDOS RELACIONADOS
- IA revela datação dos Manuscritos do Mar Morto
- Veja como era o rosto de mulher que viveu há 10 mil anos
Nascido em 1961, no sul da Rússia, Sergei Torop serviu ao Exército Vermelho antes de trabalhar em uma metalúrgica na Sibéria e, mais tarde, como agente de trânsito. Com o colapso da União Soviética e a perda do emprego, disse ter vivido um “despertar espiritual”. Em 1990, afirmou ser Jesus Cristo reencarnado e passou a se identificar como Vissarion.
Logo fundou a Igreja do Último Testamento e, no ano seguinte, fez seu primeiro sermão público. A partir dali, criou uma doutrina que mescla cristianismo ortodoxo, espiritualidade oriental e ambientalismo radical. Para seus seguidores, o calendário oficial começa com seu nascimento — o que faria de 2025, o ano 64 da era Vissarion.
A comunidade isolada
Vissarion criou a Morada do Amanhecer, uma comunidade isolada em plena taiga siberiana. Ali vivem cerca de 80 famílias em cabanas de madeira, sem álcool, tabaco ou carne. A alimentação é vegana e o dinheiro é proibido.
O local conta com escola própria, cultos matinais e uma “nova Bíblia”, escrita por Torop em dez volumes. Seus seguidores celebram o 14 de janeiro (data de seu nascimento) como principal feriado, e o dia 18 de agosto como o marco de seu primeiro sermão, quando ele descia da montanha montado a cavalo para falar ao povo.
Quer mais notícias de curiosidade? Acesse o nosso canal no WhatsApp!
Acusações e condenação
Apesar da imagem de simplicidade, denúncias começaram a rondar a figura de Vissarion nos últimos anos. Em 2020, o líder foi preso por agentes da FSB, serviço secreto russo, acusado de exploração emocional e econômica, manipulação psicológica e por manter práticas abusivas com seus seguidores.
Materiais encontrados na operação incluíam cartas de despedida e cordas, sugerindo que pessoas influenciadas por ele teriam atentado contra a própria vida. Em sua defesa, Vissarion disse não conhecer essas vítimas.
A promotoria ainda destacou que ele teria se casado com uma jovem de 19 anos que vivia com ele desde os 7 — algo que causou enorme controvérsia. Também chamou atenção a existência de uma “escola para nobres donzelas”, onde meninas seriam preparadas para serem esposas “dignas” dos homens da comunidade.
Repressão religiosa ou justiça?
Especialistas ouvidos pelo The New York Times argumentam que a prisão pode estar ligada ao endurecimento do governo russo contra grupos não alinhados à ortodoxia religiosa oficial. Embora pequena e isolada, a comunidade de Vissarion ainda era vista como um potencial foco de influência social não controlada pelo Estado — algo que Vladimir Putin não costuma tolerar.
Vissarion, que chegou a fazer pregações em países como Alemanha e Países Baixos, dizia que sua igreja não possuía renda, embora viajasse com frequência para o exterior. A desconfiança sobre o financiamento de suas atividades e o teor de sua doutrina cresceu com os anos.
Comentar