Por ser um dos meios de transporte particular mais populares e acessíveis entre os brasileiros, a motocicleta também acaba sendo o tipo de veículo que mais participa de acidentes de trânsito – em mais de 50% dos registros há uma moto envolvida.
Como o condutor está quase que completamente exposto, também são grandes as chances de ocorrências fatais. Em 2021, 11,1 mil pessoas morreram por acidentes com moto no país.
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E o principal recurso para evitar mortes em acidentes de moto é o capacete. Mas é importante ressaltar que apenas o uso do equipamento não evita ocorrências mais sérias: é necessário usar o capacete afivelado e, principalmente, com a viseira abaixada.
O correto uso do capacete é previsto pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que também estipula punição e multa aos motociclistas que se descuidarem. A infração pelo uso da viseira levantada é considerada média, com multa de R$ 130,16 e a retenção do veículo para regularização. A norma vale tanto para o piloto quanto para o passageiro.
MAU HÁBITO
Mesmo assim, há quem insista no erro. Trabalhando como mototaxista há 14 anos, Osvaldo Ulisses, de 54 anos, é um dos profissionais que atuam no ponto de mototáxi ao lado de um supermercado no bairro do Jurunas, em Belém.
Ulisses comenta que costumava pilotar sua moto com a viseira do capacete levantada e isso fez com que ele quase sofresse acidentes graves com riscos trágicos em, pelo menos, três ocasiões.
“Uma vez eu estava trafegando pela rodovia Augusto Montenegro com a viseira levantada e, de repente, resolvi fechar ela. Poucos segundos depois, quando acelerei para ultrapassar uma van, um dos passageiros jogou um caroço de tucumã pela janela e acertou em cheio a viseira. Me assustei na hora e reduzi a velocidade. Se não tivesse fechado a viseira, o caroço poderia ter quebrado meus óculos e feito com que os estilhaços do vidro da lente entrassem nos meus olhos, que poderiam me deixar cego”, conta.
Em outra situação, Ulisses transitava sem a viseira e uma abelha acabou entrando no capacete. “Fiquei desesperado e estava levando um passageiro na hora. Eu parei a moto e tentei tirar ela do capacete, mas ela acabou ferroando a minha orelha, que chegou a ficar muito inchada”, diz.
Na terceira experiência relatada pelo mototaxista, um inseto acertou em cheio seus óculos enquanto conduzia a motocicleta. Com o impacto, o bicho morreu esmagado e uma substância que saiu do corpo do animal acabou entrando em contato com os olhos de Ulisses, que sofreu um forte incômodo em sua visão. “Meu olho ficou muito vermelho e com muita coceira. Voltei para casa para usar um colírio, mas ficou ardendo por um bom tempo.”
Apesar disso, Ulisses afirma que é comum que os motociclistas não façam uso da viseira do capacete. Ele mesmo, que já correu riscos pelo mau hábito, ainda comete o mesmo erro repetidas vezes. “Tem gente que não usa por costume mesmo ou porque a viseira está muito arranhada. Como o clima em Belém é muito quente, tem quem prefira usar a viseira aberta para ventilar melhor”, expõe.
UM BARATO QUE PODE SAIR CARO
Se a viseira arranhada é um problema para alguns motociclistas, é importante reforçar o papel fundamental de proteção que ela desempenha. Mais que isso, a troca da peça é acessível e pode ser facilmente realizada em lojas de peças para motos.
Aos 20 anos, Eduarda Marques é proprietária de um estabelecimento que vende peças e equipamentos e oferta serviços para motocicletas no bairro do Paar, em Ananindeua. Entre os itens vendidos, um dos mais procurados são os capacetes.
Os preços iniciais do equipamento de proteção variam conforme a marca e o modelo. O capacete mais em conta sai a R$ 89. Além disso, é possível trocar apenas a viseira, que é vendida a partir de R$ 10.
“Independente da marca ou modelo, todos os capacetes possuem viseiras que podem ser adquiridas separadamente”, destaca a empresária. Ela também reafirma a importância de seguir as orientações de limpeza e conservação do capacete dadas pelas fabricantes.
“Não existe acessório ou película que impede o acúmulo de água ou sujeira na viseira. O fabricante sempre recomenda que as viseiras sejam lavadas com água e sabão neutro. No caso da viseira arranhada, isso vai da questão da marca, pois algumas possuem uma proteção reforçada anti-risco. Mas tudo vai depender do cuidado de cada pessoa. Se precisar trocar a viseira, em geral só é cobrado o valor da peça e a troca é feita de graça”, explica.
Como é possível perceber, o correto uso do capacete e seus acessórios depende do bom senso de condutores e passageiros para resguardar a própria segurança e vida. Mas um velho hábito – seja ele bom ou ruim – sempre é difícil de ser mudado da noite para o dia.
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