Agora não é hora de comprar, de contratar serviços, e muito menos de financiar ou buscar crédito. Ao mesmo tempo, é bom o momento para quem quer poupar, principalmente em alguma aplicação de renda fixa, já pensando em ter um ganho mais interessante em um futuro próximo.
Esta situação é resultado do décimo aumento seguido - dessa vez de um ponto percentual - da taxa básica de juros, a taxa Selic, chegando a 12,75%. A medida imposta pelo Banco Central desde a quarta-feira, dia 3, é mais uma tentativa de frear a crescente inflação, apostando em uma elevação de preços que desestimulem os brasileiros a consumir.
Economistas afirmam que a alteração vai ser sentida por todo mundo, ganhando bem ou mal, pelo acumulado de tantas altas consecutivas. De agosto de 2020 a 17 de março de 2021, a Selic se manteve em 2%, mas vem aumentando desde então a cada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) como metodologia para segurar a inflação.
“Como o governo federal não tem outras medidas mais impactantes, ordena a taxa de juros para tentar frear o consumo e com isso baixar a inflação, é a meta do governo, porque a inflação está batendo os 12% ou acima, o dólar vem subindo e ainda não parou”, justifica o economista Roberto Sena, supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Pará.
“Internamente, temos um problema sério: depois da pandemia, houve uma tentativa de a economia voltar ao eixo justamente via consumo. Tanto que o governo federal liberou recursos do FGTS, fez antecipação do 13º, dentre outras medidas. Mas aí sobe a taxa de juros para parar o consumo, parece uma brincadeira”, explica Sena. “ Na medida em que se consome menos, se tem menos emprego, mais empresas fechando, mas aparentemente o Banco Central não tem outro mecanismo. A saída não é essa, e sim mais investimento, a situação está crítica, nunca se perdeu tanta renda e poder de compra, e essa não é a melhor solução”, reforça o economista.
APLICAÇÕES
A taxa Selic é mesmo o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação no Brasil, inflação que é medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA. Se a taxa de juros se eleva, o crédito fica mais caro. Ou seja, os juros sobre empréstimo, cartão de crédito, cheque especial, crédito nas lojas, tudo é afetado quando a Selic sobe. O ponto positivo disso é que a remuneração da poupança se eleva, então há vantagem para quem poupa. Com uma retenção dos gastos dos brasileiros em função da menor procura por produtos e serviços, há uma pressão sobre a oferta, e com maior disponibilidade de produtos e serviços no mercado, há a tendência de redução de preços durante um certo período.
“A alta na taxa dos juros básicos da economia, no caso a Selic, tem impactos no crédito para pessoas físicas e jurídicas. Mas há aumento da atratividade de investimentos em renda fixa principalmente, com retorno até de mais de 1% ao mês, dependendo do prazo da aplicação. Já quem está buscando crédito vai pagar mais caro”, confirma Nélio Bordalo Filho, conselheiro do Conselho Regional de Economia dos estados do Pará e Amapá (Corecon PA/AP) e também economista.
“Quem puder, o ideal é poupar, aplicar, criar uma reserva financeira para futura necessidade, ou planejamento, projeto de vida próximo. Deixe esse dinheiro em boa aplicação em uma instituição séria que tenha rendimento interessante com taxa de juros idem. O consumidor que precisar de crédito tem que buscar alternativas, pesquisar condições de prazo, taxa de juros e ir pela menor. Realmente não é hora de financiamento, de crédito, até porque em breve, pela própria concorrência de mercado, as condições ficarão melhores”, orienta Nélio.
PARA ENTENDER
JUROS NA PRÁTICA
l Um empréstimo pessoal de R$ 5 mil, financiado em 12 meses, teria parcela mensal de R$ 528,44 com a Selic anterior, a 11,75% ao ano. A mesma parcela com a nova taxa de juros sobe para R$ 530,91, segundo a Anefac. A diferença não chega a R$ 2,50.
l Porém, se compararmos com janeiro do ano passado, quando essa prestação estaria em R$ 507,72 com a taxa de juros da época, a parcela aumentou R$ 23 por mês para o consumidor.
l Para quem financiou um veículo de R$ 40 mil em 60 vezes até março do ano passado, uma parcela custava R$ 974,42. Já quem for financiar um carro no mesmo valor agora, vai pagar prestações de R$ 1.159,09 com a nova Selic.
l Uma geladeira de R$ 1,5 mil, por exemplo, custaria 12 parcelas de R$ 166,01 com a Selic em 2%, segundo simulação da Associação Nacional de Executivos (Anefac). Com a taxa anunciada na última quarta, a prestação sobe para R$ 171,92.
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