O drama é parte essencial do futebol, às vezes até em excesso. Latinos tendem a ser mais sensíveis a situações de forte envolvimento emocional. Daí a nuvem de preocupação que se abateu sobre os torcedores depois que Neymar entrou na zona de risco, podendo mesmo ser cortado da Seleção. A contusão grave no tornozelo vem se juntar ao histórico de problemas que o atacante apresenta em competições de alto nível.
Teve que ser desligado da Seleção em 2014 após levar uma joelhada criminosa nas costas. Inicialmente, ninguém imaginou que a lesão era tão grave. Horas depois, descobriu-se que o impacto do baque na espinha poderia ter levado a uma situação mais séria, deixando o atleta paraplégico.
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Na Copa de 2018, na Rússia, chegou abaixo da forma ideal. Recuperava-se de uma lesão no dedo do pé, o que lhe custou resistência e velocidade nas partidas do Mundial. Ganhou fama de malandragem pelo excesso de teatro quando recebia faltas. Levou muita pancada, é verdade, mas podia ter evitado os rompantes de arte dramática.
Neymar sempre foi franzino. Por essa razão, Luxemburgo apelidou de “filé de borboleta”. O drible foi sempre a sua arma para se livrar das botinadas de marcadores mais ferozes. Ágil, magrinho, sempre conseguiu escapar ileso nos primeiros anos antes da fama.
A coisa mudou de figura quando ganhou notoriedade pelo bom futebol desde a estreia pelo Santos. Passou, como todos os grandes jogadores, a ser perseguido e às vezes caçado em campo. Na Europa, no Barcelona, virou astro de dimensão internacional e a receber mais bordoadas ainda.
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Ao invés de mudar o estilo para evitar pontapés, ele fez o caminho inverso: cultivou a mania de desafiar os algozes, aplicando dribles para irritar e desconcertar o adversário. Um recurso legítimo, ao alcance dos malabaristas da bola. O preço foi alto. As já citadas lesões sempre o perseguiram, prejudicando a caminhada.
Caso se confirme sua ausência nos dois próximos jogos da Seleção, contra Suíça e Camarões, ele irá repetir o que tem sido rotina na carreira. Sair de cena nos momentos de culminância sabota o que pode ser o último plano de Neymar para alcançar o prêmio de Melhor do Mundo da Fifa.
Com baixo rendimento nos torneios europeus, ele só terá alguma chance de receber a honraria se liderar o Brasil em campos do Qatar. Dificilmente isso ocorrerá caso ele se ausente desses jogos ou acabe voltando meia-boca.
O certo é que, em situações desse tipo, o torcedor costuma se preocupar com o futuro da Seleção no torneio, receando que ficar sem um jogador do porte de Neymar pode decretar nova frustração em relação ao título. Neste caso específico, penso que o time sofrerá menos do que sofreu em 2014.
Neymar é importante pela qualidade de seu jogo, mas há algum tempo deixou de ser peça fundamental no aspecto coletivo. Costuma jogar num universo particular, preocupado em deixar seu nome marcado e funcionando como o dono do time.
Contra a Sérvia, isso ficou óbvio de novo. Todas as vezes em que teve a bola nos pés optou sempre pelo lance individual, pela firula desnecessária. Perdeu pelo menos quatro jogadas assim. Em seu melhor momento, avançou para a área com intenções de arremate, mas Vinícius Jr. se intrometeu e deu o chute que originou o primeiro gol de Richarlison.
É claro que Neymar pode evoluir com a Seleção na Copa, mas é improvável que mude de estilo. Por essa razão, é mais lógico lamentar a perda do lateral direito Danilo. Sem ele, Tite terá que escalar o reserva imediato, Daniel Alves, o mais idoso do elenco e o menos preparado para os rigores de um Mundial que exige velocidade e força.
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