A poucas rodadas do fim da fase classificatória da Série C do Campeonato Brasileiro e com o time fora do G8 por 11 partidas consecutivas, o departamento de futebol do Clube do Remo optou por mudar o formato de contratações para a competição. Depois de muita bola fora no mercado nacional devido a chegada em excesso de ruindade que, até então, além de não agregar em nada ao plantel profissional, ainda tumultuaram o já chamuscado clima da equipe, no decorrer desta semana, atletas do celeiro local passaram a ganhar protagonismo para fortalecer o plantel azul-marinho.
Após a oficialização do lateral-esquerdo Evandro Lima, do Águia de Marabá, a agremiação trouxe de volta o volante Paulinho Curuá, assim como encaminha acordo com o centroavante Luan Santos, também do Azulão marabaense. O foco da diretoria, contudo, está longe de uma valorização no talento ou competição local. Na realidade, o péssimo aproveitamento dos nomes mapeados em outros centros foi o que forçou a equipe a baixar a bola e entender que o planejamento que já se apresentava falho no começo da competição nacional, se mantinha no mesmo rumo.
O regresso de Curuá é a prova concreta da incompetência dos responsáveis pelo clube. Inativo desde a reta final do Parazão visto o não acerto com o Tapajós, as peças contratadas para preencher a vaga do volante sequer demonstraram a metade do que o atleta natural da terra apresentou em campo. Gustavo Bochecha, Laranjeira e Álvaro, da mesma zona de ofício, por exemplo, têm desempenho para deixar todo torcedor frustrado e decepcionado com as promessas da diretoria e presidência para este ano. Fora que raramente são acionados e dificilmente completam uma partida inteira. Bochecha entrou em campo apenas três vezes nos 11 jogos em que foi relacionado; Laranjeira duas vezes em seis partidas à disposição; e Álvaro três vezes em sete jogos com Ricardo Catalá.
Momento é explicado pela falta de “sangue paraense”
Na onzena titular azulina que tem entrado em campo nos últimos compromissos, nenhum atleta que vestiu a camisa da equipe é natural da terra. Até o mês passado, os valores do estado não eram prioridades para reforçar o elenco, visto a contratação de jogadores veteranos de outros centros. A falta de olhar para o próprio quintal culminou com a preocupação na marra, com os nomes de Evandro e Curuá confirmados, e Luan Santos na mira do departamento de futebol.
Na visão do ex-ponta e ídolo do Fenômeno Azul, Landu, a ausência do sangue paraense com a camisa do Leão diz muito sobre o momento da equipe. “Aconteceu muito isso em 2007 quando o Remo caiu pra Série C. A Série C não pode ter erro. É um campeonato mais curto, em que os estádios não oferecem uma boa prática do futebol. O jogador tem que jogar com garra, para se adaptar. As peças contratadas não renderam. Tem jogador que até parece ter medo de jogar com torcida. Como eu sou da terra, sei da importância do prata da casa. É bom o Remo ter jogadores daqui e que jogam aqui. O menino do Águia (Evandro) que chegou foi campeão paraense e só agora está sendo enxergado. Eles só precisam da oportunidade, assim como eu tive quando saí do Abaeté”, destaca.
A ruindade dos atletas apresentada em campo, especialmente em compromissos como mandante em estádios lotados, também é um dos pontos negativos com a falta de jogadores locais. “Pra jogar no Remo tem que ter personalidade, vontade de vencer. No meu tempo tinham jogadores que faziam um treino no estádio lotado, que eu vi, ficaram com medo, imagine jogar em um Mangueirão lotado. Como jogador paraense sei que é necessário o psicológico. Os jogadores têm que ter uma mentalidade muito forte, não só de Remo, mas Paysandu. Mas pra isso é preciso a oportunidade”, explica Landu.
Política de “importações” gera perda de identidade
Na visão do ex-goleador Edil, ídolo do Clube do Remo e do futebol paraense, as maiores glórias do Leão Azul, assim como a de conquistas de outras agremiações do Estado do Pará, contaram com o suporte quase que integral de jogadores oriundos da terra. A perda de tal identidade tem sido determinante pela limitação técnica-tática nos últimos anos, na avaliação do jogador.
“O futebol paraense sempre foi celeiro de bons jogadores, de atletas. O que nós temos de bons atletas é brincadeira. É preciso investir no jogador da casa e trazer no máximo cinco, seis de fora. Só que é feito o contrário, não tem oportunidade. Principalmente em uma Série C. Se traz um camburão de jogador e a maioria só para passear, ficar no DM, olhando. Não gosto de falar do jogador, porque eu fui jogador, mas a maneira como estão fazendo, está errado”, destaca.
Edil seguiu o raciocínio: “É preciso investir no futebol da terra, nossos valores. Só querem contratar. Precisamos melhorar essa parte. Sou a favor sempre de jogadores da terra e com a chegada desses jogadores no Remo, espero que isso melhore”, avalia.
E MAIS... CRÍTICAS DA TORCIDA
* A sequência de lambanças efetuada pelo departamento de futebol do Clube do Remo, com a formação de um elenco limitado, ruim e sem repertório no gramado, mesmo com uma das maiores folhas desta Série C do Campeonato Brasileiro, passando a casa do milhão, é digna de decepção. Quem destaca isso são os membros do Fenômeno Azul, insatisfeitos com o que tem sido apresentado pelo time desde a final do Parazão.
* O torcedor Carlos Garcia, destaca. “Essa Série C é a mais fácil dos últimos anos e o Remo está fazendo de tudo para não se classificar. Que ponto chegou a incompetência da diretoria. Contrataram por contratar. Deus faça que esse jogador do Águia (Evandro) dê liga e nos ajude”, corneta. Já o torcedor Rodrigo Martins, embora otimista, manteve a realidade como principal via de avaliação nesta reta final de Terceirona da equipe. “A gente sempre espera o melhor. Mas com esse time a gente não vai longe. Estádios lotados, torcida apoiando, mas o time é ruim. Não vencemos nem cinco jogos, difícil a situação do time”, destaca.
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