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E agora? Calorzão pode impedir voos; entenda a situação!

De acordo com pesquisadores, os aviões obtêm 1% menos elevação a cada 3 graus Celsius de aumento de temperatura e precisam reduzir seu peso, podendo até não embarcar passageiros

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Imagem ilustrativa da notícia E agora? Calorzão pode impedir voos; entenda a situação! camera Temperaturas elevadas podem tornar os aviões pesados demais para decolar | Foto: Reprodução/Freepik

Nos últimos anos as ondas de calor extremo estão sendo mais frequentes no nosso planeta, isso se deve muito por conta das mudanças climáticas. Esse problema das altas temperaturas tem influenciado em várias áreas, como no setor aéreo, que vem enfrentando dificuldades na decolagem de aviões em determinados aeroportos, apresentando mais um desafio para a aviação civil.

A medida que a onda de calor se torna mais frequente, esse problema pode se estender a mais voos, forçando as companhias aéreas a deixar os passageiros no solo. “O desafio básico enfrentado por qualquer aeronave ao decolar é que os aviões são muito pesados e a gravidade quer mantê-los no chão”, diz Paul Williams, professor de ciência atmosférica da Universidade de Reading, no Reino Unido. “Para superar a gravidade, eles precisam gerar sustentação, que é a atmosfera que empurra o avião para cima”.

Na hora da decolagem, a sustentação da aeronave depende de vários fatores, entre eles, a temperatura do ar – e conforme o ar esquenta ele se expande, então o número de moléculas disponíveis para empurrar o avião para cima é reduzido.

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Segundo Williams, os aviões obtêm 1% menos elevação a cada 3 graus Celsius de aumento de temperaturas. “É por isso que o calor extremo dificulta a decolagem dos aviões – e em algumas condições realmente extremas isso pode se tornar totalmente impossível”, disse ele.

Em casos de aeroportos em grandes altitudes, onde o ar já é naturalmente mais rarefeito, e com pistas curtas, que deixam o avião com menos espaço para acelerar, esse problema é mais frequente. Segundo Williams, se um avião requer 2 mil metros de pista a 20 graus Celsius, vai exigir 2.500 metros a 40 graus Celsius.

Redução da velocidade dos ventos

Durante pesquisa de dados históricos de aeroportos de 10 anos da Grécia, Williams e sua equipe, constataram que todos eram caracterizados por altas temperaturas no verão e pistas curtas. Eles encontraram um aquecimento de 0,75 grau Celsius por década desde a década de 1970.

“Também encontramos uma diminuição no vento contrário ao longo da pista, de 2,3 (4,26 km/h) nós por década”, disse Williams. “O vento contrário é benéfico para as decolagens, e há algumas evidências de que a mudança climática está causando o que é chamado de “silêncio global”, e é por isso que os ventos parecem estar diminuindo”.

A equipe então colocou essas temperaturas e ventos contrários em uma calculadora de desempenho de decolagem de aeronaves para uma variedade de tipos diferentes de aeronaves, incluindo o Airbus A320 – um dos aviões mais populares do mundo.

“O que descobrimos foi que o peso máximo de decolagem foi reduzido em 127 quilos a cada ano – isso é aproximadamente equivalente ao peso de um passageiro mais sua mala, o que significa um passageiro a menos a cada ano que pode ser transportado”, diz Williams.

O A320 teve seu peso máximo de decolagem reduzido em mais de 3.600 quilos no aeroporto Chios Island National, o principal aeroporto do estudo, que tem um comprimento de pista de pouco menos de 1.500 metros. Isso vem desde sua introdução em 1988 até 2017.

Outro aeroporto citado, foi o City Airport de Londres, no distrito financeiro da capital do Reino Unido, que também tem uma pista com pouco menos de 1.500 metros de comprimento. Só para ter uma ideia, em 2018, durante uma onda de calor, mais de uma dúzia de voos foram forçados a deixar passageiros no solo para decolar com segurança. Um dos voos teve que retirar até 20 pessoas.

No aeroporto Sky Harbor International de Phoenix no ano de 2017, quando as temperaturas atingiram 48,8 graus Celsius, acima da temperatura operacional máxima para muitos aviões de passageiros, dezenas de voos foram totalmente cancelados em poucos dias.

Segundo um estudo da Universidade de Columbia prevê que, até 2050, uma aeronave típica de fuselagem estreita, como o Boeing 737, terá restrições de peso aumentadas de 50% a 200% durante os meses de verão em quatro grandes aeroportos dos EUA: La Guardia (Nova York), Reagan National Airport (Washington), Denver International e Sky Harbor (Arizona).

Soluções possíveis

Felizmente, as companhias aéreas não são impotentes contra o problema. “Existem muitas soluções em cima da mesa”, diz Williams.

“Uma delas seria programar as partidas longe da parte mais quente do dia, com mais partidas de manhã cedo e tarde da noite, uma tática já usada em áreas quentes como o Oriente Médio”. Aeronaves mais leves também são menos afetadas pelo problema, então isso pode acelerar a adoção de materiais compósitos como fibra de carbono para fuselagens, segundo Williams.

Enquanto isso, fabricantes como a Boeing já estão oferecendo uma opção “quente e alta” em algumas de suas aeronaves, para companhias aéreas que planejam usá-las extensivamente em aeroportos de alta altitude e alta temperatura.

A opção oferece impulso extra e superfícies aerodinâmicas maiores para compensar a perda de sustentação, sem alterar o alcance ou a capacidade de passageiros. Obviamente, uma abordagem mais drástica seria alongar as pistas, embora isso possa não ser possível em todos os aeroportos.

Em alguns casos, onde nenhuma destas soluções é aplicável, os passageiros terão simplesmente de ceder os seus lugares. Mas, diz Williams, isso continuará sendo um problema de nicho no futuro próximo, pelo menos.

“Pessoas sendo retiradas de aeronaves porque está muito quente é raro e continuará sendo raro. A maioria dos aviões nunca está em seu peso máximo de decolagem, então isso acontecerá em casos marginais, principalmente aeroportos com pistas curtas, em grandes altitudes e no verão”, diz ele.

No entanto, o futuro a longo prazo pode ser mais difícil, acrescenta: “Não acho que será uma grande dor de cabeça para a indústria, mas acho que há fortes evidências de que vai piorar”.

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