Não é todo mundo que vai ao supermercado e resiste a comprar produtos como salgadinhos, biscoitos, enlatados e outros alimentos industrializados, conhecidos por serem ultraprocessados. A facilidade de ter aquele item pronto para consumo, com sabor e ainda por cima com preço mais baixo que alimentos naturais é uma tentação para a correria do dia a dia, mas que pode trazer consequências para a saúde.
Um estudo feito em parceria entre a Universidade Federal de São Paulo, USP e Universidade de Santiago, no Chile, mostra que esses alimentos foram responsáveis por 57 mil mortes no Brasil, em 2019. De acordo com a pesquisa, a redução do consumo desses produtos em até 50% poderia ter poupado cerca de 29 mil vidas.
A nutricionista Maria Viana pontua que o primeiro passo para quem deseja ter uma alimentação saudável, sem dar margem para problemas de saúde, é saber diferenciar as diferentes categorias dos alimentos. “Existe uma diferença na classificação deles, de acordo com o Guia Alimentar da População Brasileira, elaborado pelo Ministério da Saúde. Tem os alimentos in natura, aqueles diretos da fonte; os minimamente processados como arroz, feijão e açúcar, com processamento mínimo; tem os processados, que sofrem modificações para terem uma vida útil maior, como um suco de uva 100% integral, uma mussarela de búfala, um queijo cottage; e os ultraprocessados, que não são indicados para consumo. Alguns nem são considerados alimentos de tanta coisa que têm. Eles fazem mais mal do que bem para o organismo”, alerta.
Comer um alimento ultraprocessado não significa uma sentença de morte imediata. Uma vez ou outra até que passa, o problema é quando eles fazem parte do cardápio regular da população, em virtude dos ingredientes que possuem. “Existe uma série de classificação de aditivos químicos, como agrotóxicos, consta na sigla INS (sigla em inglês para Sistema Internacional de Aditivos Alimentares), que são aditivos que têm classificação de controle do Ministério da Saúde, que podem ser utilizados, mas com limites. São os corantes, conservantes, emulsificantes, edulcorantes, uma série de aditivos para dar textura, cor, sabor e conservar”, cita a nutricionista.
Todos esses aditivos químicos podem provocar problemas em curto e longo prazo. “Em curto prazo são as alergias. Pessoas que têm crise aguda quando entram em contato com esses alimentos ultraprocessados. Existe uma crescente de crianças alérgicas, às vezes as mães se expõem muito a esses produtos e causam essa reação nas crianças”, exemplifica Maria Viana.
E a lista de problemas é mais ampla. “Irritação de mucosas gástrica, esofágica e principalmente intestinal. O intestino fica inflamado, hipersensível, com alteração da microbiota. O paciente pode ter constipação, diarreia, gases”, destaca. “Em longo prazo podem ocorrer uma série de doenças inflamatórias, maior propensão ao diabetes, colesterol alto, triglicerídeos, câncer de intestino, de estômago e outros tipos, porque são alimentos com muitos aditivos químicos”, afirma. “Os embutidos, por exemplo, são tão graves como o amianto, que era aquele produto das telhas Brasilit que causa câncer”, compara.
A partir de todas essas possibilidades de problemas desencadeados pelos alimentos ultraprocessados, fica mais fácil entender como se chegou a tantas mortes no Brasil a partir do consumo desses produtos. “Eles podem causar câncer, doenças crônicas degenerativas, poderia ser um número até maior. Em função disso, se pensa em pessoas com má qualidade alimentar grande”, avalia a nutricionista. “Aqui na nossa região é uma área com grande prevalência de câncer gástrico e, quando se investiga, tem ingestão de produtos ultraprocessados, um consumo alto, má nutrição, baixo consumo de alimentos nutritivos”, relata. “A pessoa vai no que está pronto, processado, na embalagem. Em longo prazo, adquire uma doença e pode ir a óbito com um câncer que poderia ser evitado”, ilustra.
Para os fãs dos snacks, refrigerantes e afins, uma outra notícia desestimulante para o consumo: não existe margem de ingestão segura para os ultraprocessados. “Isso é muito relativo. Se pega um paciente com uma colite, uma gastrite e que consome esses alimentos, ele vai ter um câncer daqui a dois, três anos. É muito relativo dizer a quantidade segura, mas quanto menos, melhor”, sugere Maria. “Embutidos no máximo uma vez por semana. Salgadinho e enlatados uma vez por mês ou a cada 15 dias, mas se o paciente já tem histórico de risco, é melhor evitar mesmo. Esse grau de risco varia de pessoa para pessoa”.
O melhor, portanto, é pensar em substituir esses itens tão nocivos, sempre que possível. “Um suquinho de caixa que a fruta é a última coisa que tem, você pode pensar em um suco minimamente processado, ou em algo feito em casa. Um embutido, salame, mortadela, podemos viabilizar algo natural. Por que não um sanduíche de ovos? Com frango desfiado, picadinho, algo feito em casa, sem carne industrializada”, sugere. “Ao invés de um miojo, por que não um macarrão temperado feito em casa? Desembale menos e descasque mais. Em vez de um Danoninho, por que não uma batida de fruta com iogurte natural? É muito mais saudável”, garante a especialista.
Mas não é preciso desespero se você passou a vida consumindo “tekitos”, “skilhos”, conservas e outras coisas mais. A ordem é olhar para frente. “Uma pessoa que hoje está toda desorganizada, consome muito esses produtos, deve zerar esse consumo, deixar para quando for a um local que não tenha outra saída. Diminua o consumo. Se você já consumiu a vida inteira, não é que vai morrer de câncer certamente, mas é preciso diminuir, melhorar essa qualidade de vida, dar um freio nessa agressividade ao organismo, dando um prognóstico melhor para a saúde. Você pode melhorar para que não vire um problema lá na frente”.
O mais importante é ter consciência. “Tem o Guia Alimentar do Ministério da Saúde, que abrange informações muito interessantes e é acessível de graça. Ele ensina a população. Tem a nova lei da rotulagem, que também é algo legal para ensinar a população o que é saudável do que não é”, vislumbra Maria. “Quanto mais se ensina a população a se alimentar, melhor e menos custo para o sistema de saúde, melhor longevidade com saúde. Isso é muito legal. Nossa função é ensinar, orientar, desprender o paciente, para ele entender o que ele precisa colocar na mesa dele”.
CATEGORIAS DE ALIMENTOS
Alimentos in natura
São aqueles obtidos diretamente de plantas ou de animais (como folhas e frutos
ou ovos e leite) e adquiridos para consumo sem que tenham sofrido qualquer alteração após deixarem a natureza.
Alimentos minimamente processados
São alimentos in natura que, antes de sua aquisição, foram submetidos a alterações
mínimas. Exemplos incluem grãos secos, polidos e empacotados ou moídos na forma de farinhas, raízes e tubérculos lavados, cortes de carne resfriados ou congelados e leite pasteurizado. A segunda categoria corresponde a produtos extraídos de alimentos in natura ou diretamente da natureza e usados pelas pessoas para temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias. Exemplos desses produtos são: óleos, gorduras, açúcar e sal.
Alimentos processados
A terceira categoria corresponde a produtos fabricados essencialmente com a adição de sal ou açúcar a um alimento in natura ou minimamente processado, como legumes em conserva, frutas em calda, queijos e pães.
Alimentos ultraprocessados
A quarta categoria corresponde a produtos cuja fabricação envolve diversas etapas e técnicas de processamento e vários ingredientes, muitos deles de uso exclusivamente industrial. Exemplos incluem refrigerantes, biscoitos recheados, “salgadinhos de pacote” e “macarrão instantâneo”.
Fonte: Guia Alimentar Para a População Brasileira - Ministério da Saúde
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