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GASTRONOMIA PARAENSE

Açaí, tucupi e mais: COP30 vai permitir pratos paraenses após polêmica

Organização da COP30 modificou o edital para contratação de empresas para operação de restaurantes nos espaços oficiais do evento. Alimentos como açaí e tucupi, que foram barrados no texto anterior, poderão ser servidos.

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Imagem ilustrativa da notícia Açaí, tucupi e mais: COP30 vai permitir pratos paraenses após polêmica camera COP30: Foi publicada uma errata para incorporar a culinária paraense. | Wagner Santana/Arquivo

Após repercussão negativa, a organização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) modificou o edital para a contratação de empresas para operação de restaurantes nos espaços oficiais do encontro, que será realizado em novembro, em Belém. Alimentos locais, como açaí e tucupi, que foram barrados no texto anterior, agora poderão ser servidos no evento.

A mudança foi feita pela Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), após atuação do governo federal, por meio do ministro do Turismo, Celso Sabino. Em nota, a organização informou que, após análise técnica, foi publicada uma errata para incorporar a culinária paraense. O detalhamento da oferta de alimentos no evento será realizado após a seleção dos fornecedores.

A nota ressalta ainda que o edital busca valorizar, na hora da seleção, empreendimentos coletivos, como cooperativas, associações, redes solidárias e grupos produtivos locais, além de grupos historicamente vinculados à produção de alimentos sustentáveis e à sociobiodiversidade, como povos indígenas, comunidades quilombolas, mulheres rurais, juventudes do campo e demais povos e comunidades tradicionais.

O edital estabelece que ao menos 30% do valor total dos insumos adquiridos sejam provenientes da agricultura familiar.

Nesta semana, a OEI publicou o edital para selecionar os estabelecimentos que atuarão na COP30. Ele listava, em uma tabela, alimentos e bebidas considerados com alto risco de contaminação e que, portanto, estariam proibidos nos espaços dos eventos da COP30. Entre esses alimentos estavam o açaí, o tucupi, sucos de fruta in natura e a maniçoba.

A proibição de alimentos típicos da culinária paraense gerou polêmica e diversas críticas. O chef Saulo Jennings foi um dos que criticou o edital. “É um crime contra nosso povo, contra a nossa gastronomia, contra a comida que alimentou nossa ancestralidade toda, a gente só sobrevive por causa desse alimento”, afirmou em publicação nas redes sociais.

Saulo Jennings é o fundador do restaurante Casa do Saulo, que além de ter unidades no Pará, tem também em São Paulo e no Rio de Janeiro, todos voltados para a culinária paraense. O chef foi o primeiro a ser escolhido como Embaixador Gastronômico da ONU Turismo no mundo. Em 2023, na COP28, em Dubai, ele conta que cozinhou na abertura do evento e que serviu o tacacá.

Ele ressaltou que a COP é uma oportunidade para fortalecer o turismo gastronômico na região, gerando mais emprego e renda. “Quem vier e comer, vai sair daqui apaixonado”. Na nota publicada, a organização da COP esclarece que as recomendações do edital são exclusivas para espaços da conferência, não abrangendo outros locais do município de Belém ou do estado do Pará.

Diz ainda que a definição do cardápio da COP30 é de responsabilidade da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), assim como possíveis orientações sobre produtos alimentícios, e atende a critérios da Vigilância Sanitária nacional e subnacional.

Os cardápios apresentados poderão sofrer ajustes para atender aos critérios do edital, como a diversidade de alimentos e a segurança dos participantes da conferência. Na próxima terça-feira (19), será realizada um audiência pública para ouvir candidatos à operação de alimentação da COP30.

Em defesa da gastronomia paraense

A restrição seria para o edital dos espaços oficiais, que abrange 87 estabelecimentos divididos nas categorias: VIP internacional; VIP brasileira/regional; italiana; vegana/vegetariana, pan-americana; brasileira e regional. A atualização do edital, conforme informou o Ministério do Turismo, garante que sabores típicos do Pará estejam presentes durante a Conferência.

A cozinheira e boieira Eliana Ferreira trabalha há 38 anos com comida regional. Sua história começou em Ponta de Pedras, onde aprendeu com sua mãe e outros cozinheiros a preparar os alimentos, e se desenvolveu no Ver-o-Peso. Ela se especializou em pratos como maniçoba, vatapá, tacacá e açaí, que são essenciais para a cultura local.

“Trabalho muito com maniçoba, vatapá, tacacá e o açaí não pode faltar na mesa do paraense. O turista, quando chega no Ver-o-Peso quer experimentar o filhote com o açaí”, comenta a cozinheira.

Preocupada com a preparação, Eliana cozinha a maniçoba por 15 a 20 dias para garantir a cor ideal, transmitindo o conhecimento culinário que vem desde sua avó até sua filha. Ela está otimista em relação à venda de seus pratos durante a COP30. “Mandei cozinhar 100 quilos de maniçoba para me programar para esse período, porque eu vendo tanto no Ver-o-Peso quanto no restaurante da Antônio Barreto e na Praça Brasil. Eu não posso faltar com a maniva cozida. Já fica tudo pronto porque quando está terminando, já tem outra leva para distribuir nos boxes do Ver-o-Peso. Estou muito animada cozinhando a minha boa maniva para a COP30”.

O médico David Bechara, 70, considera que a comida paraense é singular e o mundo precisa conhecê-la. “Para nós foi muito estranho o que aconteceu, de repente uma notícia de que essas comidas não poderiam ser servidas durante a COP. É como se não pudesse fazer mal para as pessoas de fora, mas pode fazer para nós. Quer dizer, não tem o menor sentido. Ou como se a nossa imunidade fosse maior. Então, nós acreditamos que a nossa comida é extremamente saudável e o mundo todo precisa conhecer”.

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O chef Thiago Castanho, que utiliza insumos amazônicos em sua cozinha, defende a simplicidade de comidas regionais.
📷 O chef Thiago Castanho, que utiliza insumos amazônicos em sua cozinha, defende a simplicidade de comidas regionais. |Ricardo Amanajás/Diário do Pará

Para o chef paraense Thiago Castanho, que é curador do Festival Amazônico de Gastronomia que está acontecendo em Belém, a medida soou como um caso de xenofobia. “Imagina se um evento desse acontece na Itália e proíbem de fazer massa ou molho de tomate? Quando você faz uma comparação assim parece algo ridículo porque as pessoas ainda olham para os nossos ingredientes como algo muito exótico, inclusive o brasileiro. Ontem foi revogado o edital devido à pressão do público. De certa forma, é uma vitória, mas ainda vai acontecer muita briga ao longo dos anos ainda”.

O chef, que utiliza insumos amazônicos em sua cozinha, defende a simplicidade de comidas regionais. “Acho que a gente tem que entender o valor da nossa região para o resto do mundo, entender o que é a nossa potência, que às vezes pode ser uma comida simples. É preciso valorizar os processos artesanais de produção e não olhar isso como falta de tecnologia, e sim como algo para nos enaltecer. Isso que os japoneses fizeram e a Europa faz com os seus produtos como a massa, por exemplo”.

Experimentar uma maniçoba, um açaí ou um tacacá significa viver a própria identidade. É o que reflete a professora aposentada Mariana Paiva, 59. “A comida é a minha cultura, a valorização do que nós somos e do que nós temos. Essa é a nossa cara, esse é o nosso Pará. Esconder isso ou restringir isso, seria tirar parte da nossa identidade de um processo mundial. Nós somos essas pessoas que gostam desses alimentos e que se alegram com isso. A maioria de nós vive disso também, da maniçoba, do vatapá. Onde a gente passa, nas esquinas que a gente vive tem gente consumindo esses prato”.

A decisão da OEI veio após a forte reação de 19 entidades paraenses, entre elas a Federação das Indústrias do Pará (Fiepa), Abrasel, ACP e Aspas, que divulgaram nota de repúdio à medida inicial. O ministro do Turismo, Celso Sabino, também se posicionou contra a decisão e garantiu que os produtos seriam autorizados pela organização do evento.

Na carta conjunta, as instituições classificaram a proibição como um “ato de desconhecimento e preconceito cultural” contra ingredientes que são símbolos da identidade alimentar amazônica, como o açaí, o tucupi e a maniçoba. Após a repercussão causada pelo edital, a Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) revogou a proibição desses produtos nas áreas oficiais da COP30. A decisão consta em documento assinado por Luiz José da Silva, secretário da Comissão de Avaliação da OEI.

A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), em nota, mencionou a errata do edital de licitação que trata da contratação de empresas para operação de restaurantes da COP30. Segundo o texto, “a culinária paraense será incorporada e o detalhamento da oferta de alimentos no evento será realizado após a seleção dos fornecedores”.

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