Jogadores e apostadores denunciados no escândalo de manipulação de jogos se dizem inocentes e questionam as provas elencadas pelo Ministério Público de Goiás.
Os advogados de defesa de alguns dos 16 réus denunciados pelo MP afirmam que vão provar que são inocentes. A defesa de Eduardo Bauermann, que foi afastado pelo Santos, disse que o zagueiro nega qualquer participação no esquema. Os advogados de Victor Ramos, da Chapecoense, e de Igor Cariús, do Sport, também tentarão provar a inocência dos clientes. Eles terão dez dias pra isso, assim que intimados.
Alguns advogados questionam a forma como as provas foram obtidas e apresentadas, e alegam o cerceamento do direito de defesa. A denúncia do MP tem mais de 1.600 páginas, com milhares de mensagens encontradas em celulares apreendidos, além de transcrições de conversas telefônicas grampeadas, planilhas e comprovantes de pagamento.
Ademar Rigueira Neto, advogado de Cariús, disse que a denúncia é "superficial" e se baseia em prints descontextualizados. Ele pediu ao juiz para rejeitar as provas apresentadas e arquivar o caso.
A defesa de Thiago Chambó, um dos presos na operação, afirmou que algumas detenções são desnecessárias. O advogado de Romario dos Santos disse que seu cliente tem "conduta ilibada". Chambó, Romario e Bruno Lopez foram presos, apontados como operadores do esquema. A promotoria justificou a manutenção dessas prisões alegando risco de eles atrapalharem as investigações.
A Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público de Goiás (MPGO) na última terça-feira.
O QUE DIZEM AS DEFESAS DOS RÉUS
Ana Paula da Silva Corrêa, advogada de Eduardo Bauermann (Santos)
"Nosso cliente nega participação em qualquer esquema de manipulação de resultados. Assim, a defesa técnica tem a convicção de que ao longo da instrução processual irá provar sua inocência. Demais manifestações se darão apenas nos autos do processo, por entender que essa é a melhor forma de preservar os interesses do atleta."
Ademar Rigueira Neto, advogado de Igor Cariús (Sport):
"A denúncia é superficial, por se basear apenas em descontextualizados print screens de redes sociais, cujo conteúdo não serve como prova válida a justificar a participação de Cariús em qualquer esquema de manipulação de resultados esportivos. Confiante na inocência do atleta [...] a defesa impugnou judicialmente e requereu o arquivamento da denúncia. A petição aponta a inépcia e a falta de justa causa da acusação, por não descrever adequadamente os fatos e se utilizar de documentos inválidos."
Ivan Jezler, advogado de Victor Ramos (Chapecoense):
"Victor Ramos foi inquirido no Ministério Público e negou a autoria dos fatos. Juntou evidências nos autos da ação penal e pretende continuar colaborando com as investigações, e com a Justiça, para comprovar, agora definitivamente, sua inocência. Objetivamente, o zagueiro jamais foi advertido com cartões, e não cometeu qualquer penalidade máxima em jogos que constituem o objeto da investigação. A denúncia foi oferecida com base, apenas, em prints parciais de conversas travadas no WhatsApp. Ainda assim, as mensagens demonstram um contexto diverso, revelando reiteradas recusas do atleta em participar de qualquer manipulação desportiva, juntadas pelo próprio MP. Não houve aceitação ou recebimento de vantagem com a finalidade de manipular resultados ou provocar infrações. A defesa escrita do jogador será apresentada buscando sua absolvição sumária."
Auro Jayme, advogado de Fernando Neto (São Bernardo):
"A defesa reitera a inocência de Fernando Neto. Após inúmeras chantagens sofridas por parte de determinados agentes, que o procuraram, simulou anuir às propostas ilícitas recebidas. Não executando-as durante o jogo, bem como, restituindo os valores transferidos para sua conta bancária na sua integralidade, para estes acusados, ora denunciados pelo crime de Organização Criminosa, no presente caso. Trechos das conversas de aplicativo de WhatsApp entre Fernando Neto e estes outros acusados, aqui divulgados, necessitam ser extraídos e apresentados pelo órgão acusador na sua integralidade, para revelar todo o contexto. E assim ficar demonstrado os fatos como eles realmente ocorreram, não cabendo presunções."
William Albuquerque de Sousa Faria, advogado de Thiago Chambó:
A defesa garante que esclarecerá todos os pontos da acusação do Ministério Público e afirma, de antemão, que pessoas próximas aos envolvidos estão sendo presas sem necessidade para sustentar a acusação de organização criminosa. O criminalista ainda garante que seu cliente nunca fez parte de qualquer esquema de corrupção envolvendo manipulação de resultados no futebol."
Ralph Fraga, advogado de Bruno Lopez
"Entendemos que, por se tratar de uma denúncia extensa, com diversos anexos oriundos dos elementos extraídos na investigação, é necessária muita cautela em qualquer comentário. Apesar de se tratar de fatos novos, jogos diferentes daqueles que foram objeto de denúncia na primeira ação penal, o crime pelo qual Bruno se encontra acusado é exatamente o mesmo, mas por situações diferentes. Como de praxe, sempre com muito respeito ao trabalho do Ministério Público e do Poder Judiciário, as acusações serão formal e processualmente respondidas no momento oportuno."
Matheus Segala Batista, advogado de Romario dos Santos:
"Romario desconhece as imputações que estão sendo feitas em seu desfavor. Eventuais dúvidas serão esclarecidas e sanadas no deslinde processual. Ressalta-se que, por ora, o feito encontra-se em um momento ainda embrionário de uma suposta e, talvez, imaginária, formação de culpa. Trata-se de pessoa primária, de conduta ilibada e que figura como empresário do setor automotivo há mais de cinco anos, não havendo qualquer envolvimento com a prática de delitos. Por meio de seus advogados, coloca-se à disposição para dirimir quaisquer eventuais dúvidas, eis que é de seu absoluto interesse provar sua inconteste inocência."
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