
O rock sempre teve um papel fundamental como megafone para as vozes de protesto e reflexão social. Em cidades com rica tapeçaria cultural como Belém, essa tradição se mantém viva, com bandas utilizando o gênero não apenas para entreter, mas para provocar e discutir as realidades que as cercam. É nesse cenário de criatividade e engajamento que a banda Acorde De Novo se destaca, continuando a escrever sua história com uma sonoridade única e letras afiadas.
E essas letras ganham força com o lançamento nesta segunda-feira (18) do videoclipe de “O escolhido”, primeiro single do seu aguardado próximo álbum, "Preconceitos", dedicado a falar sobre preconceitos, que vai conter músicas sobre racismo, homofobia, xenofobia e outros temas.
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“A ideia do single surge com o incômodo de ver, frequentemente, diversos preconceitos camuflados em discursos religiosos. Às vezes, a camuflagem nem existe, e a violência é expressa de forma direta, ‘em nome de Deus’. O discurso do bem contra o mal, ou do ‘cidadão de bem’ que defende os valores tradicionais, é uma estratégia bem utilizada para atacar tudo o que a religião considera ser profano e diabólico", explica Arthur Brito, vocalista e guitarrista da banda.
“É nesse mundo de discursos que a música se insere, criticando, por exemplo, a intolerância religiosa no discurso do eu lírico, que se diz ‘o escolhido’, e que reivindica a sua área vip no céu”, continua Arthur. “No videoclipe, a banda tentou trazer tudo isso de forma bem humorada, convidando o espectador a imaginar um cenário em que, quando as pessoas chegassem no céu, após a morte, enfrentariam também lá uma desigualdade social”.
Nascida em 2013, a Acorde De Novo surgiu com a proposta instigante de infundir o rock alternativo com uma "visão amazônica", mesclando-o a ritmos tão diversos quanto o carimbó e o brega, a salsa e o samba-rock. Essa alquimia sonora não é nova para o grupo, que ao longo de sua trajetória buscou ainda unir elementos do blues, música circense, hard rock e pop em suas composições.
Atualmente focada seu segundo álbum, "Preconceitos" chega como um projeto ambicioso, mantendo sua essência de fusão musical, levando ainda referências do funk norte-americano ao seu caldeirão de sonoridades alternativas para tratar temáticas problemáticas.
Essa abordagem crítica e engajada não é novidade no repertório da Acorde De Novo. A banda já fez sua voz ser ouvida com a crítica social de "País do futebol" (2014), a defesa da luta indígena em "dialética indígena" (do EP "Acorde na chuva", 2019), as reflexões sobre vícios em "Anônimos" (2021) e o luto da pandemia em "Não sou um numeral" (2021). O disco de estreia, "Paradoxal" (2019), já trazia em suas letras discussões sobre amor, liberdade e política.
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