Desenvolvida principalmente a partir da primeira metade dos anos 1980 em Nova York e algumas cidades europeias como Paris e Berlim, a Street Art ou arte urbana não demorou muito para tomar as ruas também do Brasil, onde desde o início manteve uma identidade própria.
Em meio à diversidade cultural característica da região amazônica, a arte de rua também tem seu lugar no Estado do Pará e, em breve, sua capital contará com um espaço especialmente dedicado à manifestação artística, o Museu de Arte Urbana de Belém (MAUB). O projeto, que segue em fase de elaboração, recebe o patrocínio do Instituto Cultural Vale, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
A primeira edição do MAUB prevê a realização de uma imensa exposição de arte urbana em Belém que ocupará fachadas e muros de imóveis localizados em um ponto estratégico da cidade. Um verdadeiro convite à imersão artística em um ambiente conectado com a arte urbana que vem sendo feita nos principais cenários do globo.
A ideia é que artistas visuais locais e de qualquer outra parte do planeta, selecionados através edital de chamamento público, participem de uma imersão cultural pelas paisagens amazônidas e, ao final da experiência, produzam as obras que irão compor um enorme museu de arte urbana a céu aberto e com acesso gratuito para o público, seja ele formado pelos próprios moradores da capital ou mesmo turistas em passeio por Belém.
Produtor executivo do projeto, Gibson Massoud destaca que o MAUB chega para somar com a cidade. “O projeto pretende transformar o Complexo Ver-o-Rio em um dos maiores museus a céu aberto do Brasil, colocando Belém na rota da Street Art brasileira e, por que não, mundial. Serão 21 obras, 14 oficinas de arte para crianças e adolescentes em situação de risco e um festival de música”.
Gibson acredita que, justamente por ser democrática e acessível a todos, a arte urbana vem ganhando cada vez mais espaço nas grandes cidades e transformando a vida dos moradores que nelas residem, a exemplo do famoso Beco do Batman, em São Paulo, e do Museu de Arte Urbana do Porto, no Rio de Janeiro, que se transformaram em pontos turísticos quase obrigatórios para quem passa por essas cidades. Para além das grandes capitais do Sudeste do Brasil, a proposta é que esse cenário também se consolide em uma metrópole amazônica como Belém.
“Acho que hoje as pessoas já têm uma ideia melhor sobre a arte urbana brasileira. Quando elas vêm artistas como Os Gêmeos ou o Eduardo Kobra expondo nas maiores cidades e museus do mundo, elas entendem a importância do movimento no Brasil e o quanto ele transforma vidas”, considera, ao destacar o papel de iniciativas que fomentem esse tipo de espaço no país. “Essas iniciativas são de fundamental importância para o surgimento de novos artistas, novos locais e para continuidade dos espaços que já existem. Museus a céu aberto tendem a ter um excelente público e quase sempre estão renovando as suas obras, sempre oportunizando uma nova experiência para quem já visitou antes e um público novo para os artistas que estão ali expondo”.
O surgimento de novos artistas no cenário da arte urbana produzida no Brasil é acompanhado pelo fotógrafo e curador William Baglione. Criado na Zona Leste de São Paulo, ele foi testemunha do processo que levou à consolidação da Street Art no Brasil. “Não deixa de ser um fenômeno recente. A arte urbana começa a se desenvolver principalmente a partir da primeira metade dos anos 1980 em Nova York e algumas cidades europeias como uma manifestação artística genuína por parte dos adolescentes. Eu nasci na metade dos anos 1970, mas eu cresci nos anos 1980, na periferia de São Paulo, envolto ao surgimento do grafite, da pichação, das turmas de baloeiros, da prática de pintar a rua em época de Copa do Mundo, então, nessa efervescência cultural é onde eu me estabeleço”.
Ainda no começo dos anos 1990, o irmão de William se destaca nesse cenário e o curador passa a representá-lo, depois passando a administrar a carreira de outros artistas e foi responsável por curadorias nacionais e em centros culturais e galerias em países como Estados Unidos, França, Inglaterra, entre outros. Em maio de 2017 assumiu a curadoria de um projeto em Belém, o Street River, que levou arte para os povos ribeirinhos. Profundo conhecedor do cenário, hoje ele vê a arte urbana, cada vez mais, se expandindo por todo o Brasil.
“Eu vejo a arte urbana principalmente saindo dos grandes centros clássicos como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Minas Gerais e indo para outros estados de uma forma muito positiva. Tem muito artista no Norte e Nordeste que anseia por oportunidades para mostrar o trabalho e só com o surgimento de projetos nessas regiões se possibilitará o desenvolvimento deles. É importante descentralizar, dar oportunidade para outras vozes”.
No movimento da street art desde os anos 1990, o artista visual Sebá Tapajós também viu tudo isso acontecer de dentro e não tem dúvidas que há espaço para o cenário crescer ainda mais. “Para mim, que estou nesse movimento desde os anos 1990 no eixo Norte/Nordeste, mais especificamente em Salvador (BA) e Belém (PA), vi e vivi todo esse processo acontecer. Creio que conseguimos nosso espaço não só no mundo atual, mas também na história da arte, entrando em museus, galerias e afins. Mas ainda temos um caminho longo pela frente. É preciso ocupar mais e mais espaços”.
Destacando a relevância da Amazônia, e, mais especificamente, de Belém abrigar a primeira galeria fluvial do mundo, o StreetRiver, ele reforça a qualidade dos trabalhos desenvolvidos por artistas urbanos na região e no Brasil como um todo. “Temos o StreetRiver a primeira galeria fluvial do mundo, na Amazônia, colocando o estado do Pará no circuito mundial de Street Art. E não só na Amazônia, mas é reconhecido mundialmente que o maior berço e expoentes artistas da Street Art são brasileiros por conta, principalmente, da nossa diversidade e criatividade”.
"Museus a céu aberto tendem a ter um excelente público e quase sempre estão renovando as suas obras.” Gibson Massoud, produtor executivo do projeto.
ARTE EM CORES
A diversidade característica da arte urbana produzida no Brasil e na Amazônia conta com o patrocínio do Instituto Cultural Vale também no interior do Estado. Já em sua segunda edição, o Projeto Arte em Cores dá espaço para diferentes expressões artísticas urbanas, desde o grafite, até o estêncil e a colagem. Em 2022, o projeto levou cor às ruas de 11 municípios dos Estados do Pará e do Maranhão.
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