Extremamente impactado pela pandemia do coronavírus, o turismo de negócios no Pará, que pode ser considerado a modalidade turística mais antiga do estado, está em processo de recuperação, sem ainda ter alcançado o volume de negócios registrado em 2019. No entanto, quem está à frente da organização de eventos como feiras, congressos e seminários para este ano está confiante na boa adesão de seu público-alvo.
Professor da Faculdade de Turismo da Universidade Federal do Pará (UFPA), Álvaro Negrão, detalha que este segmento de turismo tem, na verdade, duas vertentes: uma formada pelo chamado turismo corporativo, o qual é composto por empresários e profissionais que viajam com o objetivo de realizar transações comerciais, prestação de serviços e missões profissionais. Tudo com foco na geração de negócios. A outra vertente é a de turismo de eventos, constituído por iniciativas de diversas naturezas (feiras, congressos, seminários, etc) que fomentam a geração de negócios e repercutem em toda a cadeia produtiva do turismo, do setor hoteleiro ao de restaurantes.
“Em função da crise sanitária, as pessoas não puderam viajar a negócios por anos, e os eventos, na maioria, foram cancelados ou suspensos. O nosso principal equipamento de eventos, o Hangar, foi transformado em hospital. Alguns hotéis fecharam e outros conviveram com uma situação inusitada: o baixíssimo nível de ocupação dos apartamentos. Por outro lado, as reuniões virtuais, prática recorrente durante a pandemia, continuam sendo uma alternativa no mundo corporativo em substituição aos eventos presenciais”, justifica o docente.
Lucio Cavalcanti, economista, superintendente da Associação Comercial do Pará (ACP) e coordenador da Feira Pará Negócios e do Circuito Pará Negócios, está confiante que 2023 será um bom ano para esse tipo de turismo.
“A Pará Negócios chega a sua 10ª edição este ano e é um dos maiores eventos de negócios da região Norte, contribuindo com o fomento do turismo de negócios, atraindo participantes de vários outros estados e isso movimenta a nossa economia com geração não apenas de negócios, mas, de oportunidades, trabalho, emprego e renda”, analisa.
Lúcio afirma que o que efetivamente movimenta esse mercado na capital são eventos, congressos técnicos, reuniões, negócios e empreendimentos que cada vez mais atraem pessoas e consolida esse tipo de turismo na região.
“Apesar dos recursos tecnológicos terem se intensificado no período da pandemia, a atração de eventos para oEstado, assim como a possibilidade de sediar a COP 30 e a disponibilização de novos espaços, como o Centro de Convenções em Marabá e Santarém, devem atrair mais eventos corporativos, técnicos e setorizados e isso significa desenvolvimento e crescimento econômico para nossa região”, projeta o superintendente da ACP.
Setor gera emprego e renda ao Estado desde o século XIX
O turismo de negócios é o segmento mais antigo do Pará. Há fontes históricas que registram a passagem por Belém de inúmeros profissionais, pesquisadores, comerciantes. Para atendê-los foi sendo implantada, desde o século XIX, a rede hoteleira de Belém. Naquele século pontificavam na cena paraense os hotéis do Norte, Madrid, Gibraltar, Globo, entre outros. No século seguinte, em 1913, surgiu o grande ícone da hotelaria paraense: o Grande Hotel. A gênese da hotelaria de Belém, portanto, está associada ao mercado de turismo de negócios.
O titular da Secretaria de Estado de Turismo (Setur), Eduardo Costa, corrobora que o turismo de negócios e eventos está em consolidação e bastante aquecido no Pará e ao lado do turismo de natureza, do gastronômico e cultural, figura como um dos principais tipos de turismo no estado.
Em função dessa movimentação, a pasta inclusive conta com a Gerência de Turismo de Negócios, Eventos e Incentivo (Gnei), divisão à qual compete acompanhar a elaboração de projetos de turismo de negócios, eventos e incentivo para melhoramento do fluxo e a formatação de produtos turísticos.
“É um segmento que movimenta a economia, gera emprego e renda, e é atrativo para a realização de eventos de grande porte, sejam nacionais ou internacionais. Recebemos ao longo do ano uma série de eventos como conferências, convenções, rodadas de negócios, feiras, workshops”, complementa.
Equipamentos do estado, como o Hangar Convenções e Feiras, a Estação das Docas, em Belém, Carajás Centro de Convenções “Leonildo Borges Rocha”, em Marabá, e os previstos Centro de Convenções Sebastião Tapajós , em Santarém e o Centro de Convenções de Castanhal, devem se tornar os locais preferidos de quem escolhe sediar uma programação de negócios no Pará, confirma o secretário.
“O público é diverso, são pessoas com o desejo de realizar viagens com interesse associativo, profissional, institucional, promocional, técnico, científico e social. Um fator importante para ressaltar é que esse turista acaba permanecendo por alguns dias e depois alguns retornam com suas famílias para viagens de lazer, o que é bom para o comércio paraense e também para tornar as nossas atrações turísticas mais conhecidas”, revela.
Costa confia em uma expansão desse mercado nos próximos anos. Vale lembrar que, só nesta última semana, Belém sediou eventos do Parlamento Amazônico (Parlamaz), que funcionam como preparatórios para a Cúpula da Amazônia, prevista para ocorrer no mês de agosto, em Belém - e para o qual são esperados todos os chefes de Estado de membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA): Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, além do próprio Brasil.
“E temos a COP 30, cuja nossa capital é candidata para sediar a edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas em 2025. Para isso, o governo do estado já está articulando, trabalhando políticas públicas, fazendo grupos de trabalho e unindo esforços para que tenhamos esse momento histórico no Pará”, garante.
Fita
Como exemplo desse aquecimento do turismo de negócios, o Hangar vai sediar entre 15 e 18 de junho, a 11ª edição da maior Feira Internacional de Turismo da Amazônia (Fita), com o tema “Turismo e Bioeconomia, um novo paradigma para a Amazônia”. O evento agrega os estados e países da Amazônia internacional para a promoção dos produtos turísticos e comercialização dos destinos, consolidando-se como instrumento essencial para o posicionamento estratégico do Estado no mercado turístico.
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