No palco, Sérgio Britto sempre foi um dos mais furiosos do Titãs, a despeito de estar à frente de um dos instrumentos mais delicados, o teclado. A ele, Branco e Tony coube a missão de manter banda em atividades mesmo que num ritmo muito menor do que de décadas atrás, seja de shows ou de materiais novos. Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO, ele fala desse reencontro, do que se pode esperar das apresentações, da escolha do repertório e de nunca poder dizer nunca quanto a novos reencontros ou novas músicas.
“Na Praça com Maria” é opção para noite deste sábado
P Quem vê de fora, tem a impressão de uma grande reunião familiar a partir da turnê. Como tem fluido essa volta, a relação entre vocês?
R O clima tem sido ótimo. Fizemos uns quatro ou cinco reencontros. Primeiro numa entrevista coletiva em que foi tudo muito bacana, emocionante colocar a conversa em dia. Aos poucos começamos a trabalhar no show. O pessoal fez os ensaios de base, depois entrei com meus sets de teclado, recuperando algumas coisas que não tocava há tempos. Em abril começam os ensaios para valer, com todo mundo para chegarmos afiados nos primeiros shows.
P Parece que foi apenas um intervalo para que vocês voltassem à rotina de antes?
R Nem sei dizer, parece algo assim. Eu nem sei dizer quando o Arnaldo (Antunes) saiu. Agora será bacana para quem viu aqueles shows e para quem sempre teve vontade de ver.
P A escolha do repertório foi algo natural ou deu trabalho? Tem algo que vocês não tocavam faz tempo?
R A grande maioria de nós, Titãs que estamos na ativa até hoje, mantivemos nosso repertório clássico que não poderiam ficar de fora. Mas, algumas de fato não tocamos há algum tempo. “Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas” não tocamos faz algum tempo, assim como o “Cego Do Castelo”, que vamos tocar nessa turnê. Essas duas, com certeza, não tocávamos há algum tempo.
P Vocês anunciaram a turnê e poucos dias depois tiveram que aumentar a quantidade de datas. Era algo esperado ou esses pedidos e a procura por ingressos surpreenderam vocês?
R A gente sabia que havia uma demanda grande, até porque os fãs pediam sempre [o reencontro]. Mas, não imaginava que seria nessa magnitude, pela quantidade de ingressos vendidos numa rapidez enorme. Nem estava prevista essa ampliação da turnê. Não sei se vamos ter mais datas, até porque nos impusemos um limite, mas à essa altura do campeonato, pode ser sim que haja mudanças. Pois nossa vontade é atender as pessoas”.
P Obviamente os fãs têm alimentado a expectativa de novos projetos, discos e músicas inéditas…
R Nunca diga jamais, mas acho pouco provável. Cada um tem sua história, seus caminhos. A ideia não era voltar a funcionar como banda plenamente, e sim fazer essa grande celebração e cada um seguir seu caminho. Mas não sei o que pode vir desses shows, dessa convivência pode vir alguma coisa que não foi planejada.
P E quanto a inéditas?
R Não seria um absurdo, é até provável. Não sei se lançaríamos algo assim. Sempre fizemos coisas por diversão e lazer e, depois de pelo menos dois meses intensos, pode sair alguma coisa. Sempre aconteceu alguma coisa nos hotéis, em aeroportos, então pode vir algo, mas sem planos para isso.
P Vocês estão registrando todo esse processo, de reunião, ensaios, conversas e futuramente os shows para um filme, algo assim?
R Sim, sim. Estamos registrando os ensaios e vamos registrar os shows. Com certeza virá um registro disso, um documentário.
P Vocês estão celebrando 40 anos de carreira. Então têm um público já maduro, que passou dos 40, e gente mais jovem, que conheceu a banda depois. Como acha que vai ser esse encontro de gerações na plateia?
R Quando lançamos o material acústico vimos muito disso, de várias gerações prestigiando os shows. Agora isso deve ser ampliado. Tem muito pai que mostra para os filhos, talvez para os netos. Independentemente da faixa etária, as pessoas se identificam com nossa música. Acho que isso será algo muito legal dessa turnê.
P Vocês começaram numa época de fim da ditadura militar. Como é fazer essa turnê agora depois dos últimos anos de ameaça à democracia?
Semana Santa em Vigia terá exposição na Igreja de Pedras
R Isso soma esse caráter celebratório de nossa turnê. Passamos por coisas difíceis e as coisas não se resolvem de uma hora para outra. Mas, a impressão é que estamos no rumo certo. Ficou uma sensação de alívio, reafirmação da democracia e de seus valores, algo importantíssimo para que o país volte a crescer. Nossa geração é totalmente ligada ao momento de redemocratização do país. Tivemos algumas músicas censuradas na época. Isso tudo está carregado em nossas músicas, esses valores estão representados em nosso trabalho.
Comentar