Não foi o inglês Mick Jagger quem inventou a figura do homem branco que canta e dança como se um negro fosse - o cinema recente ensinou que, na verdade, foi o americano Elvis Presley, uns poucos anos antes. Como muitos ingleses, porém, Jagger aperfeiçoou a descoberta alheia, tornando-a um sucesso duradouro. O rock’n’roll tal qual se conhece deve muito a esse homem, que chega hoje aos 80 anos ainda em plena atividade e como uma das mais bem-acabadas encarnações não só do estilo musical como de sua filosofia.
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“O tempo não espera por ninguém - exceto Mick Jagger!”, brincam os artigos sobre o cantor à beira da octogenareidade. Ele despontou para o estrelato numa época em que seus colegas do Who cantavam “espero morrer antes de ficar velho” (“My generation”) e o lema (atribuído ao ator James Dean, de “Juventude transviada”) era “viva rápido, morra cedo e deixe um cadáver bonito”. O rock era, então, a promessa (póstuma) da eterna juventude, inacessível aos que apresentam os primeiros sinais do declínio físico. Jagger chegou para mudar essa escrita.
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Aos 20 e poucos anos, perguntava-se ao moço como seria quando tivesse 30. Aos 30, como seria se tivesse 40. E aí por diante. Seu primeiro desafio foi manter-se vivo, num ambiente dos mais perigosos, que ceifou as vidas do stone Brian Jones, de Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Keith Moon, John Lennon e tantos outros. Por essa, Mick Jagger passou fácil - a sua cota de sexo (imensa), drogas (razoável) e rock’n’roll (ideal) foi cumprida sem prejuízos significativos ao corpo e tampouco à reputação.
O desafio seguinte foi o de se manter relevante ao longo dos anos. Para além de Elvis, Jagger cunhou uma figura de irresistível apelo: magra no limite do impossível, com muita pele à mostra, aditivada por calculadas doses de degradação, masculinidade, mistério, deboche e fleuma britânica. Ocupando freneticamente todos os espaços do palco, ele serviu de modelo para sucessivas gerações de astros de rock, de David Bowie e Iggy Pop a Steven Tyler (Aerosmith) e, se formos pensar bem, até mesmo Harry Styles.
Sem dúvida, a longevidade artística do cantor se deve à reconhecida habilidade de Sir Michael Philip Jagger em gerenciar sua própria marca. Incursões no cinema e uma carreira solo se provaram fiascos ou, no máximo, distrações. Mick Jagger é, para todos os efeitos, o cantor dos Rolling Stones, a grande máquina do rock que sobreviveu ao progressivo, ao punk, ao synthpop, ao rap, ao grunge e às boy bands como uma espécie de reserva (i)moral do estilo. A banda que jamais abandonou os palcos, mesmo quando lançava discos ruins (ou até quando não lançava disco).
Ao entendimento dessa verdade, porém, o astro não chegou sozinho: foi preciso que a intervenção quase sempre turbulenta da sua nêmesis, sua cara-metade nos Stones, o guitarrista Keith Richards, para que ele fosse reconduzido à trajetória com a banda. Depois de míticos anos 1960 e problemáticos 1970, os Stones entraram pelos 1980 como uma espécie de lenda viva que adaptou sua experiência de rock puro para os estádios, atingindo plateias (e cifras) cada vez maiores. A Richards, coube manter a integridade do grupo, descabelado e com o cigarrinho no canto da boca. A Jagger, fazer o que sempre fez - a despeito da idade.
Com Keith Richards (que completa 80 anos em 18 de dezembro e certamente irá sobreviver à Humanidade e às baratas), ele prepara o lançamento de um álbum de inéditas do grupo (o primeiro desde “A bigger bang”, de 2005), com participações de Paul McCartney e do ex-baixista dos Stones, Bill Wyman, 86 anos. Um disco que deve levá-los aos palcos, onde, desde 1980, já arrecadaram US$ 2,1 bilhões.
Mas, por enquanto, o certo é a festa de aniversário, para a qual o cantor alugou o Chelsea Physic Garden, um jardim botânico em Londres, onde recebe à noite mais de 300 convidados, entre os quais a noiva Melanie Hamrick (coreógrafa, de 36 anos). Dizem por aí que não tem hora para acabar.
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